O “Mop”

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Artigo publicado no Boletim da Associação Portuguesa de Killifilia Vol. II, nº2 Mar./Abr. 2000

Por: Vasco Gomes

Introdução

Quando me iniciei na killifilia optei quase de imediato pela turfa fibrosa como substrato preferencial para a postura dos meus Aphyosemion. As primeiras experiências com os “mop” foram um fracasso e nunca cheguei a considerar outras opções – como o Musgo de Java – pela dificuldade em recolher os ovos. Quando o número de espécies a reproduzir aumentou substancialmente comecei a sentir algumas dificuldades. A turfa decompõe-se em pouco tempo e tem de ser renovada frequentemente, enche-se de detritos difíceis de remover e a recolha dos ovos é morosa. A acrescentar a isso, a turfa fibrosa disponível no mercado é cara. Por outro lado, não é adequada para algumas espécies de killies não anuais (sobretudo alguns Aphyosemion e Epiplatys) que preferem desovar junto à superfície. Por tudo isto, resolví fazer nova tentativa com os “mop”. Modifiquei alguns pormenores relativamente à primeira tentativa (tipo de lã, cor, comprimento dos fios) e coloquei o primeiro “mop” num aquário com um casal de A. australe. No dia seguinte, sem grandes esperanças, retirei o “mop” para o observar. Para minha surpresa recolhí duas dezenas de ovos bem visíveis no meio dos fios de lã. Repetí a experiência com outras espécies e, com uma ou outra variante (“mop” flutuante ou no fundo, mais ou menos comprido, com mais ou menos fios), todas depositaram os seus ovos nos “mop”.

Vantagens e desvantagens

São várias as vantagens dos “mop” relativamente às outras opções: 1- melhor visibilidade dos ovos (Fig. 1) 2- maior facilidade em retirar os ovos 3- durabilidade 4- facilidade de limpeza 5- adequados tanto a espécies que desovam no fundo como à superfície do aquário.Na minha opinião, são apenas duas as desvantagens dos “mop”: 1- são inestéticos 2- relativamente à turfa, não libertam as mesmas substâncias que parecem ser benéficas aos peixes (pode-se sempre obviar a isso adicionando turfa ao filtro).Fig. 1

Material necessário

Para se fazer um “mop” necessita-se apenas de lã 100% sintética e de uma rolha de cortiça (opcional). Como material auxiliar utiliza-se um livro de capa dura (do tamanho com que se pretende que o “mop” fique) e de uma tesoura. A cor da lã não parece ser o mais importante. Eu uso lã de cor castanha clara por ter um ar mais natural e por permitir boa visibilidade dos ovos na recolha (o que não aconteceria com cores mais claras) sem os tornar demasiado visíveis aos peixes (o que aconteceria com as cores mais escuras) quase sempre prontos a comerem os próprios ovos. A rolha de cortiça (ou um pedaço de esferovite) tem como função manter o “mop” a flutuar ficando à deriva na superfície do aquário. Tendo obtido melhores resultados com o “mop” fixo, prefiro prender um dos fios de lã na tampa do aquário prescindindo da rolha.

Fazer o “mop”

Como quase tudo em killifilía, existem diversos modos de atingir o mesmo objectivo. Na minha opinião, a maneira mais simples de se fazer um “mop” é a que se segue. No entanto, recomendo que cada um, partido desta receita básica, experimente aperfeiçoar os seus “mop” de modo a torná-los mais práticos e eficientes.

1- Enrola-se o fio de lã à volta do livro cerca de 50 vezes (que podem ser mais ou menos consoante se pretenda um “mop” mais ou menos espesso) (Fig.2)

Fig. 2

2- Com outro pedaço de lã atam-se os fios numa das extremidades do livro.

3- Fazem-se duas ranhuras em forma de V na rolha e ata-se esta ao “mop” com o mesmo pedaço de lã que em 2 (Fig. 3).

Fig. 3

4- Cortam-se os fios na extremidade oposta ao nó (Fig. 4).

Fig. 4

Nunca esquecer de ferver o “mop” durante alguns minutos antes de o introduzir no aquário para remover alguns químicos usados na confecção e coloração da lã.

Fig. 5

Recolha de ovos

1- Retira-se cuidadosamente o “mop” do aquário e deixa-se escorrer a água em excesso. Pode-se apertar suavemente o “mop” para esse efeito que não irá danificar os ovos sãos.

2- Coloca-se o “mop” sobre papel absorvente de cor clara (como o usado em rolos de papel de cozinha) e sob uma luz intensa.

3- Para uma recolha meticulosa inspecciona-se fio a fio. Encontrado o ovo, segura-se no fio com uma mão (ou uma pinça). Colocam-se dois dedos da outra mão por baixo do ovo e eleva-se o ovo entre eles (Fig. 6). Não apertar os ovos entre os dedos pois corre-se o sério risco de os esmagar.

Fig. 6

4- Coloca-se o ovo num recipiente previamente preparado com água ou turfa e repete-se o procedimento até não serem visíveis mais ovos no “mop”.

Atenção – Nunca usar o mesmo “mop” em espécies ou populações diferentes sem previamente o ferver. A razão é simples: por mais minucioso que seja o nosso trabalho de recolha de ovos, existe sempre a possibilidade de nos ter escapado algum que poderá mais tarde ser encontrado e atribuído à outra espécie ou população. Isto é o suficiente para estragar todo um trabalho de manutenção de espécies puras.

É conveniente lavar e ferver o “mop” de tempos a tempos para eliminar sujidade acumulada e esterilizar a lã. Procedendo desta forma, o mesmo “mop” poderá ser usado durante muito tempo contribuindo para o que mais interessa: a propagação dos nossos killies.