Artigo publicado no Boletim da Associação Portuguesa de Killifilia Vol. VII, n.º1 Jan./Fev. 2005
Por: Vasco Gomes
Os nauplios de artémia salina constituem a alimentação base da grande maioria dos alevins de killies desde o seu nascimento até atingirem cerca de 1cm. Mesmo depois, incluindo a idade adulta, a artémia recém nascida é um importante suplemento nutritivo contribuindo para o bom estado de saúde dos peixes e melhor desempenho reprodutivo.
Fazer eclodir ovos de artémia é fácil. Muito fácil. Certamente poucos dos leitores deste artigo nunca o fizeram. No comércio encontram-se diversos dispositivos, mais ou menos dispendiosos, que permitem executar esta tarefa fundamental de um criador de killies sem dificuldade. Mas o que fazer quando os peixes ao nosso cuidado exigem quantidades substancialmente superiores ao que esses dispositivos produzem?
Colocam-se então os problemas fundamentais que qualquer actividade enfrenta não sendo a killifilia excepção: espaço, tempo e dinheiro. Dado que não dispomos de quantidades ilimitadas desses três factores temos de utilizar métodos que racionalizem os nossos recursos e permitam ao mesmo tempo fazer face às nossas necessidades. Nessa perspectiva, passo a descrever um método de eclosão de artémia com elevada produção, simples e barato.
Material necessário:
– 1 recipiente de 5 litros (pode ser um aquário de plástico velho ou um garrafão anteriormente utilizado para água mineral). No caso de ser um aquário é conveniente usar uma tampa de modo a reduzir as perdas por evaporação.
– 1 pedra difusora com ligação a um compressor
– 1 balde de 5 a 10 litros
– Pedaço de mangueira com 1m
– 1 crivo de malha muito fina
– Sal grosso de cozinha
– Ovos de artémia
A maior parte deste material já se encontra em qualquer instalação mas mesmo novo o seu custo é insignificante.
Procedimento inicial:
1-Enche-se o recipiente com água da torneira
2-Adicionam-se 5 colheres de sopa de sal
3-Adiciona-se 1 colher de café de ovos de artémia
4-Liga-se a pedra difusora com forte débito de ar
5-Tapa-se o recipiente (se necessário)
Ao fim de 24 a 48 horas – dependendo da temperatura da água e da qualidade dos ovos de artémia – já nasceram náuplios suficientes para a primeira recolha.
Procedimento diário de recolha:
1-Interromper o débito de ar e aguardar alguns minutos
2-Com a mangueira, sinfonar cerca de ¾ da água do recipiente para o balde fazendo-a passar pelo crivo. Aquí impõem-se alguma precaução: as cascas e os ovos por eclodir concentram-se no topo e no fundo do recipiente, sendo necessário evitar essas zonas para se recolherem apenas os náuplios. Existindo uma fonte de luz forte por perto os náuplios concentram-se preferencialmente junto a esse local.
3-Lavar a artémia retida no filtro com água limpa para remover o excesso de sal.
4-Retornar a água do balde directamente para o recipiente.
5-Juntar mais uma colher de café de ovos de artémia.
6-Recolocar a tampa e ligar de novo o ar.
Depois é só distribuir os náuplios pelos peixes e vê-los crescer, saudáveis e prolíficos.
Foto 1 – Produção diária ao fim de uma semana de funcionamento
Tanto o início como a recolha diária consomem poucos minutos. Com este procedimento e esta quantidade de ovos é possível alimentar diáriamente várias dezenas de peixes adultos, semi-adultos e alevins. Regulando a quantidade de ovos adicionados é possível adaptar a produção às necessidades.
Ao contrário de outros dispositivos, este método não obriga a colheita diária dado que a elevada oxigenação do meio permite a sobrevivência dos náuplios por maiores períodos. Assim, este é um método à prova de fins de semana fora ou dias de preguiça.
É possível manter este dispositivo a funcionar durante 3 a 4 semanas sem necessidade de trocar a água ou lavar o recipiente. Após esse período é só lavar o recipiente e repetir o procedimento inicial.