As dáfnias são um dos mais tradicionais alimentos vivos utilizados em aquariofilia. O seu pequeno tamanho é particularmente adaptado às diminutas bocas da maioria dos peixes de aquário de dimensões tratáveis, e os seus hábitos filtradores permitem-nos utilizá-las como veículo para o fornecimento de vitaminas ou aditivos alimentares aos nossos peixes (já voltaremos a falar disto…). São supostamente fáceis de cultivar em casa, permitindo-nos ter um suprimento constante e fiável deste engraçado bicho durante todo o ano. Por qualquer razão que me ilude desde há anos para cá, estes pequenos crustáceos cladóceros, muito comuns em águas paradas do nosso (e de outros) país, recusam-se terminantemente a deixar-se criar em minha casa. Sou obrigado a deslocar-me por montes e vales, rede e garrafão às costas, para obter aquelas com que alimento os meus peixes. Nutritivamente falando, as dáfnias não são muito más como alimento, mas quando consideramos a apetência dos peixes para a sua ingestão, o caso muda de figura. Provavelmente devido ao seu exoesqueleto, os peixes não lhes dão grande atenção, o que acaba por não ser especialmente problemático. As dáfnias mudam de “casca” continuamente e logo após esta operação são macias e bastante mais atraentes para os killis. Esta casca é, aliás, um dos valores escondidos das dáfnias, pois funciona como fibra e é útil para “limpar” o sistema digestivo dos peixes. As que não são consumidas sobrevivem alegremente no aquário, onde se vão alimentando de bactérias, leveduras, matéria orgânica em suspensão, etc., e dessa forma contribuindo para o asseio dos aquários. Vão-se também reproduzindo, sendo os recém-nascidos uma boa comida para alevins eventualmente presentes no aquário.
Captura – Procure em lagos, charcos, poças, tanques, valas de corrente reduzida, etc. No tempo quente chegam-se mais à superfície, enquanto no tempo frio se encontram mais junto ao fundo. Uma rede de malha apropriada, passada pela água, trar-lhe-á uma massa móvel de côr alaranjada ou esverdeada composta por milhares destes pequenos bichos.
Criação – Aqui, só posso dizer-lhe o que outros dizem, uma vez que eu próprio não tenho sucesso. Cultive-as em recipientes espaçosos (quanto mais, melhor) e alimente-as com algas unicelulares (água verde), suspensões de leveduras, Spirulina em pó, etc. Muita gente recomenda coisas mais ou menos nojentas para as alimentar, como carne apodrecida (as “explosões” de bactérias que lhe são associadas parecem ser do agrado das dáfnias), estrume, dejectos de aves ou, num registo mais “soft”, a água proveniente das sifonagens do fundo dos aquários.
Fornecimento – É apenas uma questão de retirá-las do recipiente onde as tem, passá-las por água corrente e fornecê-las aos peixes. Os seus movimentos saltitantes são quase irresistíveis para os peixes. Se tiver um conjunto de crivos com várias dimensões, é talvez boa ideia separá-las por tamanhos para servi-las do tamanho apropriado aos peixes. Se, no entretanto, as colocar num pequeno volume de água com uma solução de vitaminas durante alguns minutos, elas irão para a barriga dos peixinhos com muito mais valor alimentar.